Flipagem: uma estratégia de investimentos que você precisa conhecer

Quando o assunto é mercado financeiro, existe uma extensa lista de métodos para que quem aplica em renda variável maximize os seus lucros. Seja em investimentos de curtíssimo prazo, seja em investimentos buy and hold, é ampla a variedade de opções para que o investidor faça o seu dinheiro render — sendo, por tabela, agraciado com os ganhos. Hoje vamos falar sobre uma estratégia de venda rápida de ações e/ ou cotas que pode entregar rendimentos significativos: a flipagem.
A flipagem integra, definitivamente, o catálogo de aplicações voltadas aos investidores de perfil mais arrojado. Aqui o planejamento é calcado em aproveitar o desempenho dos ativos nas primeiras horas corridas após sua emissão no mercado de ações — que pode acontecer, a título de exemplo, por meio de um IPO (“Initial Public Offering”, do termo original em inglês, ou “Oferta Pública Inicial”, do português) ou de uma emissão follow on — isto é, secundária.
O flipper — apelido dado para quem faz a flipagem — toma como base o primeiro mandamento do universo dos investimentos: a lei da oferta e da procura.
Como no momento em que os novos ativos são lançados no mercado eles tendem a ser mais almejados pelos investidores, estes papéis, por consequência, se inclinam para uma valorização no curto prazo. Então, neste ponto, entra o flipper — investidor que reserva um montante das ações em questão com antecedência para surfar na alta das cotações.
Contudo, para realizar uma flipagem segura, como o flipper deve operar e em quais precauções deve estar atento para não entrar no vermelho? Em mais um artigo preparado pela nossa equipe, você vai:
- Conceitualizar o que é, afinal, a flipagem;
- Compreender como ocorre a flipagem com ações e com cotas de Fundos Imobiliários;
- Descobrir quais são os prós e contras de incorporar a estratégia de flipagem em sua rotina de investimentos.
Flipagem: o que é?
O dia da estreia de uma empresa na Bolsa de Valores é, sem sombra de dúvidas, um dos eventos que mais geram ansiedade no mercado financeiro.
A partir do momento em que vê o seu código no telão de cotações, uma companhia deixa de ser limitada (Ltda.) e se torna uma sociedade anônima — ou seja, passa a contar com um corpo societário que possui ações da empresa e pode deter o direito de voto em assembleias ou de participação nas decisões do negócio.
Uma empresa pode optar por abrir capital por variadas razões — o principal motivo costuma ser expandir seu patrimônio e aumentar sua liquidez.
E, no processo de se converter em uma S/A, está no caminho o IPO. O IPO, ou Oferta Pública Inicial, é a ocasião na qual a empresa precifica suas ações pela primeira vez, viabilizando que os investidores reservem os ativos da companhia antes mesmo de sua estreia no mercado. Em outras palavras, o investidor garante as ações em sua carteira — entretanto, deve esperar até o dia da inauguração na Bolsa para conseguir negociá-las.
É muito comum que, na estreia, a procura pelas ações da empresa debutante seja expressiva. À vista disso, o valor dos papéis da empresa têm potencial para uma valorização atípica nas primeiras horas de operações.
É neste contexto em que opera o flipper. Na flipagem, o investidor garante um número de ações maior do que de fato pretende manter em sua carteira de investimentos — negociando o excedente no momento de autorização para a compra e venda dos papéis. O objetivo consiste em vender os ativos por uma quantia superior àquela que ele adquiriu ao longo do IPO.
Embora seja mais vista em processos de abertura de capital, a flipagem também pode acontecer quando uma empresa decide estender seu capital social — isto é, já presente na Bolsa de Valores, a companhia injeta mais ações em circulação para expandir sua participação no mercado.
Neste cenário, o flipper pode usar como estratégia o direito de subscrição — que se dá quando o investidor tem prioridade na compra de novas ações de uma empresa na qual já é acionista.
Flipagem em FIIs
Em investimentos em Fundos Imobiliários, a flipagem ocorre de modo muito similar a uma operação com ações. Aqui o flipper atua no momento em que novas cotas subscritas são integralizadas ao mercado, buscando lucrar em cima da alta procura.
Nos FIIs, a flipagem também pode ser aplicada em fundos já em operação (a partir de novas emissões de cotas) ou em fundos novos (a partir de IPO).
Por que fazer flipagem?
Assim como qualquer investimento, a flipagem é uma aplicação estratégica. Por este motivo, não se trata de um palpite ao vento quando o investidor aposta que os ativos de uma empresa vão se valorizar no momento de sua introdução no mercado.
Ponto positivo é que, na flipagem, existem condições que o investidor pode observar para tomar cautela contra grandes perdas. Algumas delas são:
Book de ofertas
Quando um book de ofertas é menor do que o book de compras, as chances de valorização no primeiro dia se acentuam — e muito. Afinal de contas, neste cenário existem mais investidores procurando pelas ações da companhia que pretende abrir capital do que ações de fato em oferta.
Setor da empresa
O segmento da empresa em IPO, com toda a certeza, interfere na expectativa do mercado para a sua estreia na Bolsa. Setores da economia mais consolidados e confiáveis, em suma, são mais atraentes para os investidores.
Em outros termos, você deve realizar uma análise fundamentalista da empresa antes de promover, de fato, uma flipagem.
Volume de ofertas
Quanto mais ativos a empresa intenciona oferecer para seu corpo de acionistas, melhor. Além de ser um indicador de saúde financeira, IPOs mais extravagantes chamam a atenção do mercado, cativando mais investidores dispostos a reservar ações da companhia.
Prazo de liquidação
Depois de comprar ações em um IPO, o investidor recebe um prazo para quitar os papéis que garantiu. Quanto mais longo for este período, mais reais são as possibilidades de lucro — uma vez que prazos mais extensos conferem maior tranquilidade aos investidores.
Por que não fazer flipagem?
Você já sabe: quanto maior a margem de lucro em investimentos, maior a margem para eventuais prejuízos também.
Quando uma flipagem não dá certo e o investidor não acerta suas previsões para o lançamento dos novos ativos no mercado acionário, as perdas podem, facilmente, chegar até a casa dos cinco dígitos — a depender do capital que você despendeu na flipagem.
Para que você consiga dimensionar o quanto as perdas podem ser intensas, trabalharemos aqui com um exemplo prático real.
Imagine que você é um investidor americano no primeiro semestre do ano de 2019. Você fica eufórico com as manchetes que passam a estampar os cadernos de economia dos jornais: a Uber vai abrir seu capital e entrar de vez na Bolsa de Wall Street.
Usuário entusiasta do aplicativo e antenado na tendência dos mais jovens de abrirem mão do carro próprio com a alternativa das viagens por demanda, você reserva lotes de ações da Uber no decorrer do IPO da empresa. Em nosso exercício imaginativo, o montante do seu investimento chega em $50.000.
Sua intenção aqui é, claro, fazer a flipagem — isto é, se beneficiar da euforia do mercado nas primeiras horas de circulação dos ativos da Uber para vender suas próprias ações por um preço acima do que você pagou quando as comprou na primeira oferta.
Contudo, após cortar sua fita de inauguração na Bolsa de Nova York, a expectativa de valorização rápida dos papéis não se concretiza. Muito pelo contrário — em seu dia de estreia no mercado, a Uber perdeu quase 8% do valor inicial de suas ações.
Para os investidores que resolveram dobrar a aposta e arriscar em ganhos com uma possível valorização futura dos ativos da Uber, o prejuízo se tornou ainda mais catastrófico: em novembro de 2019, a empresa acumulava perdas que consistiam em cerca de 40% do seu valor de mercado no momento da abertura de capital. Em nosso exemplo, o seu prejuízo ficou em $4.000 no primeiro pregão e em $20.000 no caso de você ter segurado as ações por mais tempo.
Em tal caso, as perdas podem acontecer tanto pela falta de atenção do flipper ao estudar o mercado, quanto por fatores externos que fogem do controle do investidor. Todavia, mesmo no segundo caso, quem realiza a flipagem pode se precaver ao se manter sempre em dia com as perspectivas dos investidores durante o IPO.
Falando especificamente sobre a Uber, por exemplo, muitos grandes players já olhavam há meses com desconfiança para a capacidade da empresa de gerar retorno.
Você que acompanha o blog da Akeloo há algum tempo com toda a certeza já leu: antes de colocar qualquer investimento em sua carteira, uma análise de mercado é indispensável. Quando você compreende o momento que uma empresa atravessa fora da Bolsa e, ao mesmo tempo, realiza diagnósticos através de seu gráfico de velas nos pregões da B3, você consegue projetar cenários futuros com mais solidez.
Conclusão
A flipagem é uma estratégia de investimentos amplamente especulativa — ao aproveitar um IPO para reservar ações com potencial de valorização futura, o flipper pratica um exercício de projeção de mercado que pode se confirmar ou não no dia da inauguração da companhia no mercado acionário.
Contudo, para os investidores que têm o conhecimento necessário, os palpites podem ter muito mais autoridade. Se você quer estar diariamente aumentando o seu repertório sobre investimentos, não deixe de acompanhar a Akeloo nas redes sociais — toda semana saem conteúdos novos sobre Imposto de Renda e mercado financeiro.
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