Buyback: Entenda como funciona a recompra de ações

Pode parecer que o mercado financeiro versa sobre um jogo que é jogado apenas pelos investidores — contudo, no decorrer dos pregões, as empresas também podem se movimentar para rentabilizar a precificação de seus próprios ativos. Um desses métodos empregados pelas companhias de capital aberto mais populares é o buyback (em tradução livre para o portugês, “compra de volta”).
Resumidamente, um buyback ocorre quando uma empresa listada em Bolsa de Valores delibera por recomprar uma porção dos papéis de sua própria emissão em fluxo no mercado acionário. Essa decisão que, em âmbito nacional, deve estar fundamentada segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e previamente anunciada, pode indicar diversas finalidades — como apostar em uma valorização futura das ações ou encolher o seu corpo de acionistas, a título de exemplo.
É possível afirmar que o buyback é inversamente proporcional aos lançamentos follow on. Enquanto no follow on — isto é, na oferta de novas ações na Bolsa — a empresa pretende aumentar a quantidade de suas açõe no mercado, no buyback, de maneira oposta, a proposta é reduzir os ativos da companhia em circulação.
Neste ponto do texto, o leitor pode estar se questionando: “Mas, quando uma empresa na qual eu sou acionista anuncia buyback, eu sou obrigado a vender minhas ações?”. Para esclarecer essa e inúmeras outras dúvidas, em mais um artigo preparado pela equipe da Akeloo você vai ver:
- Com todos os detalhes, que é o buyback e quando ele pode ser realizado pelas empresas na Bolsa de Valores;
- Quais motivos podem levar uma companhia a solicitar buyback;
- Quando é conveniente para o investidor vender os seus papéis de volta para a empresa e quando pode ser mais vantajoso segurar as ações depois de um pedido de buyback.
O que é, afinal de contas, um buyback?
Antes de aprofundarmos a nossa conversa, é essencial explicar no primeiro momento: quando uma empresa divulga que vai recomprar ações de sua própria emissão, os acionistas não são, de nenhum modo, compelidos a vender seus ativos de volta. Calcados em suas próprias análises de mercado, os investidores podem optar por ceder ou não seus papéis — ou seja, deste modo, o buyback é executado muito mais como um pedido do que como uma ordem.
No Brasil, é a CVM quem tem a prerrogativa de regulamentar as normas que autorizam uma empresa a concretizar um buyback no mercado de ações. Algumas das regras a serem observadas são:
- Somente 10% de cada classe ou tipo das ações totais da empresa podem ser mantidas em tesouraria;
- Impedimento de quitar as recompras no caso de carência dos recursos necessários;
- Limite de 18 meses para que a companhia complete a operação;
- Necessidade da aprovação do buyback internamente em conselho de administração ou assembleia geral, a depender do caso.
Quando uma empresa decide readquirir uma parcela dos seus ativos em circulação no mercado, podem ser dois os destinos finais destes papéis. São eles:
Cancelamento
Aqui a empresa liquida as ações recompradas e, de fato, diminui a sua fatia de atuação na Bolsa.
Os investidores devem ficar de olho que, com menos ativos circulando, o número de acionistas também diminui — o que, por tabela, resulta em um maior valor pago em dividendos pela companhia e em um acréscimo no preço dos papéis sob posse de cada investidor.
Alienação futura
Neste contexto, a companhia faz a manutenção das ações recompradas em tesouraria até que julgue que é o melhor momento para recolocar os ativos no mercado.
Em caso de alienação futura, os olhos dos acionistas têm que se voltar para a seguinte condição: no curso de uma operação de buyback, pode ser o instante perfeito para comprar ainda mais ações da empresa em questão, dado que existe um empenho a mais da própria empresa para valorizar seus papéis no médio e longo prazo.
Além do mais, um buyback também pode simbolizar uma guinada no modelo de administração do negócio — mais austero e menos aberto aos riscos.
O buyback não é o único recurso que uma empresa tem à sua disposição para recomprar suas próprias ações. Na bolsa brasileira, ela também pode realizar este procedimento por meio de uma OPA (Oferta Pública de Aquisição).
E por que as empresas fazem buyback?
As razões que podem levar uma sociedade de capital aberto a requerer um buyback junto ao órgão regulador são várias. As principais são:
Corrigir o preço das suas ações
Se dá quando uma empresa entende que o valor presente dos seus papéis não está coerente com o seu valor real — isto é, de seu valuation.
Um buyback, na maioria dos casos, ocorre quando uma companhia não vê perspectivas de que suas ações subam de valor com as flutuações orgânicas do mercado no curto prazo. Assim sendo, a empresa recompra uma parte de seus ativos para colocá-los de volta no mercado de ações em um momento oportuno — lucrando com a diferença no ato da venda.
Amortizar o Free Float
Acontece quando a companhia espera reduzir seus papéis em livre circulação no mercado — normalmente operados por players de menor aporte de capitais.
Aqui a finalidade é oposta se contrastada com o tópico acima — ao não lançar as ações readquiridas de volta ao mercado, uma empresa retrai o seu corpo acionário. À vista disso, a ideia é assegurar mais dinheiro em caixa para distribuir como proventos aos seus investidores.
Atender ao programa de Stock Options
Algumas empresas contam com programas de Stock Options em seu portfólio, que consistem na distribuição de pacotes de opções de compra de ações aos seus funcionários de alto escalão como premiação por metas alcançadas.
Caso a companhia não deseje emitir novos papéis, pode usar o buyback para viabilizar o programa.
Não deixar que um player em específico se torne o controlador da empresa
Em um cenário de desvalorização acelerada dos ativos, é natural que operadores de Bear Market aproveitem para comprar o maior montante de ações que conseguirem da empresa em baixa.
Nestas circunstâncias, um player com grande poder de aquisição pode concentrar papéis até atingir uma porcentagem de participação que lhe transforme em acionista majoritário da companhia — ou seja, com votos suficientes em conselhos e assembleias para tomar a direção na prática e definir os rumos do negócio.
Um buyback pode ser uma medida preventiva da empresa para se blindar contra investimentos predatórios.
Utilizar o caixa excedente
O uso de caixa excedente também pode ser uma justificativa empregada pela companhia para custodiar uma parcela de suas ações no mercado.
Aqui a empresa pode estar sem perspectivas de crescimento ou não ter mais meios para se desenvolver, sendo o buyback uma saída alternativa.
Uma empresa na qual eu sou acionista anunciou buyback. E agora, comprar ou vender?
Os buybacks ocorrem com maior frequência em momentos de instabilidade e imprevisibilidade no mercado financeiro. No começo da crise causada pela pandemia de COVID-19, por exemplo, o Ibovespa entrou em queda livre e várias empresas até então consistentes no mercado de ações anunciaram o procedimento.
Somente em 2020, companhias como Natura (NTCO3), Banco Inter (BIDI3, BIDI4, BIDI11) e BMG (BMGB4) pediram a recompra de ações dos seus investidores na B3.
Para um acionista que se depara com uma empresa na qual ele investe, divulgando um buyback, a decisão de vender ou não suas ações deve estar calcada em uma análise de mercado detalhada — preferencialmente, cruzando avaliações fundamentalistas com dados gráficos.
Quando um investidor vende suas ações no decorrer de um buyback, o deve fazer com a consciência de que muito provavelmente está vendendo papéis profundamente desvalorizados — isto é, muito abaixo de seu preço comum de mercado, salvo em casos específicos, como quando a empresa está atendendo a um programa de Stock Options ou investindo o seu caixa excedente, por exemplo.
Bater o pé como investidor — ou ainda, expandir seu lote de ações — pode se revelar lucrativo no longo prazo. Os caminhos até o ouro podem ser dois: você pode tanto vender os papéis (por um preço maior do que você pagou originalmente) quando o mercado enfim for redirecionado na tendência esperada pela própria empresa, quanto aumentar seus ganhos com proventos, no caso de cancelamento dos ativos recomprados no buyback.
Contudo, toda decisão deve ser tomada com calma — uma vez que existe a possibilidade de que a empresa opte por preencher demandas internas, deixando de ser rentável aos investidores.
Para mais, uma reviravolta no humor do mercado pode fazer com que os papéis da empresa percam ainda mais o seu valor, mesmo durante um buyback.
Conclusão
Quanto mais você entende sobre o mercado de ações, mais você pode investir o seu dinheiro com tranquilidade. Ao conhecer os termos, estratégias e atores que fazem parte do dia a dia de quem opera na Bolsa de Valores, você evita surpresas desagradáveis e consegue alinhar os seus investimentos com os seus objetivos.
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